terça-feira, 3 de novembro de 2015

Tentanto entender o porquê do negativo

Ainda abatidos, eu e meu marido procuramos vários artigos médicos na internet em busca de uma resposta sobre a não implantação dos nossos embriões.
Na primeira vez nós fomos muito mal informados. Estávamos decididos a ir para a consulta com um arsenal de perguntas.
O embrião não implanta no endométrio por "n" fatores e nós nem imaginávamos isso. É claro que o fato de eu ter 41 anos influencia sobremaneira, mas não é só isso. Há novidades como a imunização com linfócitos paternos e a suplementação com  coenzima Q10 e DHEA
Perguntei sobre trombofilia e o médico disse que influencia na implantação do embrião e pode causar aborto precoce. Nunca nos falaram isso na clínica. Descobrimos sozinhos. Nessa hora a gente se sente idiota. Parece que eles querem mesmo levar para uma segunda ou mais tentativas. O dinheiro importa e não os sentimentos do casal que está ali, os sonhos, os planos, as expectativas, as esperanças. Quem chega ali numa consulta para iniciar um tratamento de fertilização in vitro, já está triste, esgotado, em frangalhos mesmo.  E eles não tem a menor compaixão. Não que queiramos ser mimados, mas um pouco de cuidado nesse momento faria muito bem, afinal é um tratamento de alto custo tanto financeiro quanto emocional.
Sobre a imunização com linfócitos paternos ele disse que não há nada ainda realmente comprovado, mas vi muitos relatos de mulheres que tomaram a vacina com recomendação médica.
Eu percebi que meu médico na época ficou muito resistente em adotar protocolos mais ousados. Tudo o que perguntávamos, ele respondia que não tinha nada comprovado e blá, blá, blá. Ele quis ficar no "arroz com feijão". Perguntei sobre dosar o estradiol e ele disse que no meu caso não teríamos benefícios, mas não é bem assim que outros médicos entendem. 
Outra coisa importante que descobrimos sozinhos e que em nenhum momento nos falaram na clínica, foi sobre transferir os embriões no terceiro dia ou no quinto dia já na fase de blastocisto. Um embrião de três dias, de modo natural estaria ainda nas trompas e muitos médicos acham melhor transferir embriões de cinco dias (blastocistos) que já estão mais aptos ao ambiente uterino. Os que acreditam ser melhor no terceiro dia, sustentam que dentro do útero eles tem mais chance, que em laboratório podem não chegar a blastocistos e assim o casal não teria embriões para transferir. Tudo bem. Questão de ponto de vista. Ocorre que não nos deram a opção de escolha na primeira FIV e na consulta para a segunda FIV nós perguntamos. O médico respondeu que no meu caso (tenho 41 anos, endometriose, adenomiose, etc e etc) seria praticamente impossível termos blastocistos pois eu não respondi bem às induções (produzi só quatro folículos). Só que na segunda tentativa, eu tive menos ainda ( três folículos e os três fertilizaram). 
No segundo dia nos ligaram informando que dos três apenas dois se desenvolveram e queriam que fôssemos à São Paulo para transferir os dois embriões no terceiro dia. Eu e meu marido, numa atitude de tudo ou nada, resolvemos esperar esses dois embriões se transformarem em blastocistos. O pessoal da clínica quase não acreditava na nossa decisão, mas resolvemos encarar e não sentir culpa caso nossos embriõezinhos não se desenvolvessem.
No quinto dia nos ligaram dizendo que um havia chegado a blastocisto ! Comemoramos como se fosse um positivo ! Choramos abraçados e saimos de nossa cidade rumo à São Paulo. No meio do caminho nos ligaram de novo e disseram que houve um engano e o embrião ainda estava se desenvolvendo, mas que poderia parar o crescimento. Decidimos prosseguir viagem assim mesmo. Paramos na cidade de Itu e visitamos algumas igrejas. Fizemos nossas promessas emocionados e confiantes. A noite chegamos em São Paulo. Ficava me perguntando: "E se o embrião parar de se desenvolver ? Vamos embora vazios e tristes como nunca." Naquela noite eu praticamente não dormi. Amanheceu e eu fiquei ansiosa demais esperando o telefone tocar. Até que tocou e nos disseram que o embrião havia se transformado em blastocisto e que deveríamos transferir dali duas horas ! Eu chorava e ria ao mesmo tempo! E me senti grávida no mesmo instante ! Tínhamos certeza que nossa luta havia valido pena. Tantas viagens, tantas noites em claro, tanto dinheiro que gastamos quase sem ter ! Tudo isso ficou pequeno naquele momento.
Transferimos nosso único blastocistozinho no dia 15 de setembro de 2015. Os médicos, enfermeiras e assistentes na sala estavam todos emocionados pois era praticamente impossível acontecer uma coisa daquela. Tivemos três embriões e um chegou a blastocisto !
Saí de lá com a certeza de que nosso bebezinho estava começando a sua vidinha dentro de mim. Mas, dez dias depois, ao fazer o segundo exame BHCG, veio o golpe que quase me fez cair pra valer: mais um negativo. Todo o nosso esforço, desespero, choro e emoção, acabaram ali com aquele negativo implacável.   

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